Neste dia 8 de junho, comemora-se, quem diria, o Dia do Citricultor. Pensar em safra, problemas na citricultura sergipana - que um dia já foi a segunda maior do país -, investimentos no campo, commodities, enfim, nada disso me vem à cabeça no dia de hoje. O pensamento mais forte que me vem à mente remete ao sofrimento e ao desespero das famílias dos sete catadores de laranja que não voltaram para casa no último dia 31 de maio, quando um caminhão que transportava laranja e 37 catadores amontoados sobre a carga cítrica, caiu ao tentar passar por uma ponte rústica de madeira, no povoado Fonte Nova, entre Boquim e Estância. A ponte, em estado precário, cedeu durante a passagem do pesado veículo. Uma tragédia mais do que anunciada.
Apesar de todo o drama, da cobertura da imprensa, da comoção em Boquim – de onde a maioria dos mortos era – e do sentimentalismo do governador do Estado, Marcelo Déda, que acompanhou o funeral das vítimas e decretou três dias de luto, não percamos de vista que o trágico acidente logo, logo será esquecido, assim como tantos outros ocorridos por estas estradas vicinais do interior de Sergipe, onde centenas e centenas de bóias-frias arriscam suas vidas da mesma forma como os sete que morreram em Boquim: sobre as carrocerias dos caminhões que transportam cargas e homens, homens e cargas. Tudo como se fosse uma coisa só, e como se tivessem o mesmíssimo valor. Nem mais, nem menos. Quanto vale a vida de um bóia-fria? Um salário mínimo e alguns sacos de laranja, para quem contrata e transporta.
Nunca é demais questionar: onde estava a fiscalização da Companhia de Polícia Rodoviária Estadual (CPRV) quando o caminhão, com “passageiros” na carroceria, passou sem ser importunado? A desculpa agora é a de que a estrada é de responsabilidade do município. E tem Companhia de Polícia Rodoviária Municipal? Desconheço. E onde estavam engenheiros e fiscais do Departamento Estadual de Infraestrutura Rodoviária (DER) que não interditaram o tráfego naquela estrada e consertaram a tal ponte de madeira antes que o fato se consumasse? Ou nos acostumamos mesmo a trancar à chave a porta só depois que o ladrão nos rouba?
Tragédias como essa que aconteceu em Boquim não são para serem esquecidas ou minimizadas, mas para servirem como alerta e motivação para se corrigir erros e mudar radicalmente valores e sistemas carcomidos. Mas isso talvez em Pasárgada, sendo todos amigos do rei. Por aqui, o buraco é mais embaixo.
Porque aqui, todos sabem, e se aceita com inquietante passividade, que são raríssimos os latifúndios onde se oferece transporte adequado, salário mínimo e condições de trabalho salubre aos trabalhadores rurais. Como a safra é sazonal e o trabalhador é volante, não se tem vínculo com quem contrata, tampouco interesse de lhes dar um tratamento humanizado enquanto mão-de-obra camponesa. O serviço beira a quase servidão. Muitos desses trabalhadores labutam de 12 a 14 horas por dia, em condições desumanas.
E como por aqui se repete a lógica do Brasil afora, de concentração de terras crescente e mecanização rural cada vez mais acelerada, cresce também o número de trabalhadores rurais sem ocupação remunerada. Estes não têm terra para plantar, porque a reforma agrária não anda, e por isso, acabam nas mãos de atravessadores, que negociam a sua força de trabalho a qualquer preço e em quaisquer condições.
Quem não aceita, fica sem trabalho, sem condições de subsistência, sem dignidade e acabam engolidos pela pobreza severa. Humilhados, na próxima safra, serão presas fáceis dos contratantes de bóias-frias. Em condições mais do que adversas, sem ter a quem recorrer, são os primeiros a cair nas armadilhas do trabalho escravo ou semi-escravo, ainda comum neste Brasil sem justiça social.
E fica muito claro que tragédias como a registrada em Boquim envolvem não só a questão das péssimas condições de transporte, de salário e de trabalho dos bóias-frias, mas também as estradas por onde eles precisam trafegar, na boléia ou na carroceria de caminhões, sempre em iminente risco de vida. As vicinais, principalmente, grande parte em condições precárias, sempre guardando uma surpresa a cada curva, um susto a cada ponte de madeira na travessia de um rio, até a chuva e a noite trazem maus presságios, quando pegas pelo caminho, o que torna a viagem ainda mais perigosa.
É dura, muito dura a vida de bóia-fria. E, pode-se observar, os sete mortos em Boquim já caíram quase no esquecimento. As investigações, se é que vai haver alguma, chegarão em alguém? Os responsáveis pela contratação e transporte irregular dos bóias-frias serão punidos? Os responsáveis pela fiscalização de transporte irregular de passageiros e pelas pontes em estradas vicinais sofrerão algum processo administrativo com consequências? Ou serão mais sete vidas de trabalhadores rurais assalariados perdidas em vão, numa tragédia que poderia ter sido evitada?
Alguma coisa precisa ser feita. Evitar que mais mortes aconteçam é tarefa do Governo do Estado, dos municípios, do Ministério Público do Trabalho, sindicatos e da sociedade de uma forma geral. Não é possível mais se compactuar com as condições precárias de transporte e trabalho a que são submetidos os nossos bóias-frias, sejam catadores de laranja, cana-de-açúcar ou de qualquer outro produto agrícola, desses que só fazem gerar riqueza e bem estar para uns, miséria e morte para outros.
Apesar de todo o drama, da cobertura da imprensa, da comoção em Boquim – de onde a maioria dos mortos era – e do sentimentalismo do governador do Estado, Marcelo Déda, que acompanhou o funeral das vítimas e decretou três dias de luto, não percamos de vista que o trágico acidente logo, logo será esquecido, assim como tantos outros ocorridos por estas estradas vicinais do interior de Sergipe, onde centenas e centenas de bóias-frias arriscam suas vidas da mesma forma como os sete que morreram em Boquim: sobre as carrocerias dos caminhões que transportam cargas e homens, homens e cargas. Tudo como se fosse uma coisa só, e como se tivessem o mesmíssimo valor. Nem mais, nem menos. Quanto vale a vida de um bóia-fria? Um salário mínimo e alguns sacos de laranja, para quem contrata e transporta.
Nunca é demais questionar: onde estava a fiscalização da Companhia de Polícia Rodoviária Estadual (CPRV) quando o caminhão, com “passageiros” na carroceria, passou sem ser importunado? A desculpa agora é a de que a estrada é de responsabilidade do município. E tem Companhia de Polícia Rodoviária Municipal? Desconheço. E onde estavam engenheiros e fiscais do Departamento Estadual de Infraestrutura Rodoviária (DER) que não interditaram o tráfego naquela estrada e consertaram a tal ponte de madeira antes que o fato se consumasse? Ou nos acostumamos mesmo a trancar à chave a porta só depois que o ladrão nos rouba?
Tragédias como essa que aconteceu em Boquim não são para serem esquecidas ou minimizadas, mas para servirem como alerta e motivação para se corrigir erros e mudar radicalmente valores e sistemas carcomidos. Mas isso talvez em Pasárgada, sendo todos amigos do rei. Por aqui, o buraco é mais embaixo.
Porque aqui, todos sabem, e se aceita com inquietante passividade, que são raríssimos os latifúndios onde se oferece transporte adequado, salário mínimo e condições de trabalho salubre aos trabalhadores rurais. Como a safra é sazonal e o trabalhador é volante, não se tem vínculo com quem contrata, tampouco interesse de lhes dar um tratamento humanizado enquanto mão-de-obra camponesa. O serviço beira a quase servidão. Muitos desses trabalhadores labutam de 12 a 14 horas por dia, em condições desumanas.
E como por aqui se repete a lógica do Brasil afora, de concentração de terras crescente e mecanização rural cada vez mais acelerada, cresce também o número de trabalhadores rurais sem ocupação remunerada. Estes não têm terra para plantar, porque a reforma agrária não anda, e por isso, acabam nas mãos de atravessadores, que negociam a sua força de trabalho a qualquer preço e em quaisquer condições.
Quem não aceita, fica sem trabalho, sem condições de subsistência, sem dignidade e acabam engolidos pela pobreza severa. Humilhados, na próxima safra, serão presas fáceis dos contratantes de bóias-frias. Em condições mais do que adversas, sem ter a quem recorrer, são os primeiros a cair nas armadilhas do trabalho escravo ou semi-escravo, ainda comum neste Brasil sem justiça social.
E fica muito claro que tragédias como a registrada em Boquim envolvem não só a questão das péssimas condições de transporte, de salário e de trabalho dos bóias-frias, mas também as estradas por onde eles precisam trafegar, na boléia ou na carroceria de caminhões, sempre em iminente risco de vida. As vicinais, principalmente, grande parte em condições precárias, sempre guardando uma surpresa a cada curva, um susto a cada ponte de madeira na travessia de um rio, até a chuva e a noite trazem maus presságios, quando pegas pelo caminho, o que torna a viagem ainda mais perigosa.
É dura, muito dura a vida de bóia-fria. E, pode-se observar, os sete mortos em Boquim já caíram quase no esquecimento. As investigações, se é que vai haver alguma, chegarão em alguém? Os responsáveis pela contratação e transporte irregular dos bóias-frias serão punidos? Os responsáveis pela fiscalização de transporte irregular de passageiros e pelas pontes em estradas vicinais sofrerão algum processo administrativo com consequências? Ou serão mais sete vidas de trabalhadores rurais assalariados perdidas em vão, numa tragédia que poderia ter sido evitada?
Alguma coisa precisa ser feita. Evitar que mais mortes aconteçam é tarefa do Governo do Estado, dos municípios, do Ministério Público do Trabalho, sindicatos e da sociedade de uma forma geral. Não é possível mais se compactuar com as condições precárias de transporte e trabalho a que são submetidos os nossos bóias-frias, sejam catadores de laranja, cana-de-açúcar ou de qualquer outro produto agrícola, desses que só fazem gerar riqueza e bem estar para uns, miséria e morte para outros.
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