segunda-feira, 29 de março de 2010

Saúde pública em Sergipe: mise-en-scène sem fim


É difícil, por vezes, levar a sério um deputado como o senhor Augusto Bezerra, ainda mais quando cospe para o alto, na tribuna da Assembleia Legislativa, tudo que é acusação contra o atual governo, de improbidades a negligências, na área da saúde, sendo que ele, como boa cria do DEM, fez parte e foi a liderança na AL do governo anterior, que deixou a saúde e outras áreas importantes do Estado em situação tão ou mais caótica que as encontradas no atual governo. O cuspe, então, acaba sempre lhe acertando a própria testa.

Ninguém esquece que na gestão do DEM foram fechados os poucos hospitais que havia no interior por falta de investimentos, obrigando os doentes a buscarem tratamento na capital, superlotando os seus hospitais; que foi entregue à população uma maternidade em Aracaju com a estrutura capenga e onde R$ 6 milhões sumiram pelo ralo; que o SAMU só foi ampliando para se fazer desfiles pelo Estado, com clara conotação politiqueira; e que o grande hospital de urgências, que leva o nome do líder mor do DEM, João Alves Filho, foi deixado num estado tão crítico quanto o que se encontra agora. Ou seja, em se tratando de saúde, o governo que saiu deve tanto à população quanto o que aí está.

Mas, vá lá, o senhor “Unificado” está no seu papel de oposição, está do lado de lá, agora com as pedras nas mãos. Quem for vidraça que se segure, que ande no prumo e que não faça por onde permitir que as pedras lhe sejam atiradas. É assim que funciona nessa sociedade bipolarizada – alguém vai estar sempre de um lado em oposição a outro. São as dicotomias da vida.

Entretanto, o que surpreende não são os arroubos oposicionistas do deputado Bezerra – cujo requerimento de intervenção do Hospital de Urgência de Sergipe (HUSE) nem o Ministério Público Estadual levou a sério, preferindo encaminhar à Anvisa, MPF e Ministério da Saúde pedido de fiscalização rigorosa. O que choca mesmo é a incapacidade e a inoperância deste atual governo na área da saúde, a ponto de não conseguir oferecer à população sergipana uma alternativa de assistência hospitalar melhor que a ‘terra arrasada’ deixada pela turma do DEM.

Aliás, diga-se de passagem, com o perfil do ex-secretário-deputado petista que tomou conta da pasta até dia desses, seria mesmo difícil oferecer uma alternativa progressista, popular e eficiente que superasse a política desastrosa do Governo João Alves nessa área. Ele, o ex-secretário e deputado, sempre deixou claro o setor que ele representa: o privado. O HUSE é público. Fosse privado, talvez ele se saísse melhor, ia estar no seu terreno.

Mas certo é que a saúde, como setor sensível da sociedade, assim como a educação, vai estar sempre na pauta da hora, a incomodar os calos de quem se propõe a ser gestor público. E o caso do autônomo Jairo Ferreira Lima, que penou na porta do HUSE até a morte, há cerca de quinze dias, e que tanto debate ainda suscitará na imprensa e nas rodas de discussão, não foi a primeira nem será a última morte por falta de atendimento hospitalar nesse sinistro teatro de horrores, nesse mise-en-scène sem fim, onde gestores fingem que realmente trabalham para solucionar os problemas da saúde pública e políticos que fazem da sua prática cotidiana pura encenação para atrair os holofotes fingem que atuam. E no meio desse joguete político ficam aqueles menos afortunados, que dependem dos serviços públicos de assistência médica.

Neste cenário, claro, não dá para ignorar o outro lado da moeda, o fato de que o esfacelamento do setor público de saúde faz aparecer um outro ator que se beneficia deveras com esse desmanche: os planos privados de saúde. É cada vez maior o número de famílias das classes B e C que não mais se utilizam do setor público de saúde por não confiarem nele, preferindo o comprometimento de parte da sua apertada renda familiar para bancar um plano de saúde privado que, diga-se de passagem, também não garante uma boa assistência na hora da necessidade – não por menos figuram, ao lado das empresas de telefonia, como os campeões de reclamações nos Procons de todo o país.

Em meio a esse cenário de esfacelamento dos serviços públicos prestados à população, vale aqui uma pergunta muito simples: por qual razão gestores e políticos não usam dos serviços públicos de saúde ou de educação?

A resposta é igualmente simples: não usam porque são ruins mesmo. Só servem para aqueles que não têm outra alternativa. É preciso que essas pessoas tenham a coragem de vir a público admitir isso, que seriam incapazes de usar um hospital público ou colocar um de seus filhos numa escola pública porque são serviços de péssima qualidade.

Divido um “Arrumadinho” tamanho família, lá na Confraria do Cajueiro, a quem me apontar um político ou gestor público que não tenha plano de saúde privado ou que os filhos estudem em alguma escola pública estadual ou municipal. Vou comer esse Arrumadinho sozinho...

O capricho do desafio posto está em mostrar que, no fundo da questão, reside o fato que ao establishment local não interessa tornar os hospitais ou escolas públicos modelos, e pela simples razão de que esse mesmo establishment local faz questão de não precisar de nenhum desses serviços públicos.

Creio eu, deve ser motivo de muito orgulho para a família Alves, por exemplo, ter um dos seus membros ilustres dando nome ao maior hospital público de Sergipe ou a uma grande escola da capital. Mas nunca soube que o ex-governador João Alves Filho ou seus parentes tenham se internado alguma vez no hospital que leva seu nome ou seus filhos e netos tenham estudado na escola também batizada de JAF.

Veja o exemplo do senhor Rogério Carvalho, ex-secretário da Saúde, que também mostrou que, para ele, serviço público de saúde é espaço para se fazer política, não para se resolver os problemas da plebe. Num dos acidentes graves que sofreu enquanto era gestor da pasta, não usou de um hospital público para se tratar, mas correu para ser socorrido no novo e privadíssimo Hospital Primavera, deixando um cheque-caução de R$ 50 mil, segundo dizem, para ser atendido. Por que não foi para o HUSE, onde ele diz ter feito uma revolução no atendimento?

Assim, fica claro que, se os senhores políticos e gestores públicos não usam das unidades de atendimento públicas, sejam hospitais ou escolas, é porque são ruins de fato, tem sérios problemas e porque as chances de morrer nesses hospitais ou de sair semi-analfabeto dessas escolas são grandes, em face da pouca qualidade que oferecem, pela pura falta de investimentos e de compromisso com o povo.

Fossem os senhores gestores, prefeitos, governadores ou parlamentares obrigados, por força de lei, a usarem exclusivamente dos serviços públicos de saúde e educação, das duas, uma: ou esses serviços seriam impecáveis, ou teríamos menos homens públicos de propósitos duvidosos preenchendo cargos eletivos e de gestão. Em qualquer das hipóteses, o povo estaria bem melhor.

Mais uma do PIG: o caso Datafolha

E o PIG (Partido da Imprensa Golpista), no desespero,  vai usando de todo o seu arsenal para manipular a opinião pública e tentar salvar a sofrível candidatura do seu fiel escudeiro, o decadente José Serra...  Que a Falha de S.Paulo é a maior defensora da candidatura do tucano frente à Dilma e vem apostando alto, isso não é nenhuma novidade. Então, usar o seu instituto de pesquisa para tentar desacelarar a subida vertiginosa da petista era só uma questão de tempo... Os demais institutos vão querer entrar nessa e apoiar a farsa? Difícil, até para o Ibope, manipulável por natureza.  Mais um escândalo patrocinado por nossa mídia golpista! Até quando?!

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Caso Datafolha promete


Por Eduardo Guimarães

Se você, leitor, chegou de Marte agora, permita-me atualizá-lo sobre um escândalo que promete ser rumoroso entre os setores mais politizados da população. No último sábado, o instituto Datafolha, pertencente à Folha de São Paulo, publicou uma pesquisa sobre a sucessão presidencial que surpreendeu a todos, inclusive àqueles que beneficiou.

Como Dilma Rousseff vem crescendo em todas as pesquisas de intenção de voto para presidente e seu adversário José Serra vem caindo, Márcia Cavallari, do Ibope, João Francisco Meira, do Vox Populi, Mauro Paulino, do Datafolha, e Ricardo Guedes, do instituto Sensus, reunidos publicamente em São Paulo na semana passada em evento da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisas, concordaram que a candidata petista é hoje a favorita para ganhar as eleições de 2010.

De repente, porém, aparece essa pesquisa Datafolha mostrando queda da petista (dentro da margem de erro) e considerável subida do tucano. O resultado foi tão surpreendente que, em sua coluna deste domingo na Folha, o colunista Clóvis Rossi diz assim que não entendeu nada:

“O resultado da pesquisa mais recente, ontem publicada, é um denso mistério, ao menos para mim. Não consigo encontrar uma explicação forte para o fato de José Serra ter subido quatro pontos em um mês”.

Não foi por outra razão que, no mesmo sábado em que a pesquisa “sui generis” foi divulgada, o diretor do Datafolha tentou explicar o inexplicável com o velho clichê de que “pesquisas são um retrato do momento” etc.

Já neste domingo, a Folha publica um editorial pretendendo explicar mais do que a pesquisa “estranha”, mas o futuro, ou seja, o que outras pesquisas deverão mostrar.

“SÃO SURPREENDENTES, ainda que não constituam reversão categórica nas tendências do eleitorado, os números da pesquisa do Datafolha sobre sucessão presidencial, divulgados ontem(...)”.

Mais sincero – ou descuidado – que Rossi, outro colunista da Folha, o Kennedy Alencar, explicou, na internet, a situação que levou o jornal mais engajado na candidatura do PSDB à Presidência a literalmente estuprar o seu Datafolha. Segundo ele, sem essa pesquisa o lançamento iminente da candidatura tucana à Presidência ocorreria em clima de “velório”.

A pressa da Folha em “explicar”, não a sua pesquisa “maluca”, mas os resultados de outros institutos que deverão contrariá-la em breve, denota que o partidarismo pode ter causado um dano muito sério a um dos pilares de sua sustentação no mercado. O Datafolha é – ou era - um diferencial desse veículo de comunicação.

Penso que o efeito pretendido pela Folha e por José Serra ao engendrarem essa aparente farsa estatística poderá ser conseguido, só que parcial e inicialmente. Os leigos acreditarão na reação de Serra, bem como parte dos tucanos, dos seus aliados em outros partidos e de financiadores de campanha identificados com o projeto eleitoral da direita.

Todavia, duvido de que outros institutos, além do Ibope, aceitarão se envolver nessa farsa. Daí as insistentes “explicações” da Folha para o tsunami estatístico que vem por aí e que deverá fazer este assunto retornar à pauta política em breve. Não percam, portanto. Será divertidíssimo.

domingo, 28 de março de 2010

Uma operação midiática de grande escala contra o governo Lula

Jornalista uruguaio denuncia que a partir da primeira quinzena de março foi lançada uma operação midiática em larga escala que aciona todos os instrumentos ao alcance da direita política e do poder econômico contrários ao presidente Lula e ao seu governo, contra a candidata presidencial Dilma Rousseff e contra o Partido dos Trabalhadores.

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Uma operação midiática de grande escala contra o governo Lula


Por Niko Schvarz *

O começo dessa campanha reconcentrada já é visível nos grandes meios de comunicação quando o país se encaminha às eleições presidenciais a ser realizadas em outubro do ano em curso. Nas redações, o bombardeio midiático é conhecido pelo nome de "Tempestade no Cerrado", que, de algum modo, evoca, devido à sua localização geográfica, ao Palácio do Planalto, sede do governo. A expressão recorda a "Tempestade no deserto" da primeira invasão ao Iraque, em fevereiro de 1991, dirigida pelo general Norman Schwarzkopf, que produziu 70 mil vítimas.

A ordem nas redações da Editora Abril, de O Globo, de O Estado de São Paulo e da Folha de São Paulo é de disparar sem piedade, dia e noite, sem pausas contra esse triplo objetivo (que, na realidade, é um só), para provocar uma onda de fogo tão intensa que torne impossível ao governo e ao PT responder pontualmente às denúncias e provocações.

A cartilha é a seguinte:

1) Manter permanentemente uma denúncia, qualquer que seja, contra o governo Lula nos portais informativos na Internet;
2) Produzir manchetes impactantes nas versões impressas e utilizar fotos que ridicularizem ao presidente e à candidata;
3) Ressuscitar o caso do mensalão de 2005 e explorá-lo ao máximo e, ao mesmo tempo, associar Lula a supostas arbitrariedades cometidas em Cuba, na Venezuela e no Irã;
4) Elevar o tom dos editoriais;
5) provocar ao governo de modo que qualquer reação possa ser qualificada como tentativa de censura;
6) Selecionar dados supostamente negativos da economia e apresentá-los isolados de seu contexto;
7) Trabalhar os ataques de maneira coordenada com a militância paga dos partidos de direita e com os promotores cooptados;
8) utilizar ao máximo o poder de fogo dos redatores.

Uma estratégia midiática tucana foi traçada por Drew Westen, um cidadão estadunidense que se apresenta como neurocientista e presta serviços de cunho eleitoral, sendo autor de The Political Brain (O cérebro político) que, segundo dizem, é o livro de cabeceira de José Serra, governador de São Paulo e próximo candidato presidencial do PSDB. A adaptação do projeto corre por conta de Alberto Carlos Almeida, autor dos livros "Por que Lula" e "A cabeça do brasileiro", que atua como politólogo e foi contratado a peso de ouro para formular diariamente a tática de combate ao governo

A denúncia é recheada de exemplos concretos, reveladores de que essa tática já está sendo aplicada nos diários e, rapidamente, chega à Internet. Se referem às falsificações numéricas (em vários casos, de enormes dimensões) para ocultar ou inverter os bons resultados da política econômica e social do governo em matéria de infraestrutura em todo o país, na construção de habitações e no combate da inflação.

Uma campanha especial toma como eixo a Dilma Rousseff e seu "passado terrorista", dizendo que, além de assaltar bancos, tinha prazer em torturar e matar bons pais de família. Também colocam em cena a um filho de Lula. Isto é: a clássica campanha de tergiversações e calúnias; porém, nesse caso, agigantada em suas proporções e na somatória de meios postos à disposição que, sem dúvida, se irão incrementando e subindo o tom à medida que nos aproximemos a outubro.

O leitor poderá apreciar também até que ponto campanhas similares a esta em sua essência vêm sendo realizadas agora mesmo contra governos de esquerda do continente, como acontece com Cuba, Venezuela ou Bolívia, entre outros.

No caso do Brasil, a operação tende a impactar a ascensão da campanha eleitoral por Dilma Rousseff, que reduziu consideravelmente a vantagem inicial de Serra e continua subindo enquanto este desde até situar-se em virtual situação de empate técnico. Também correm a seu favor a notável projeção internacional da política do presidente Lula, expressada estes dias em seu compromisso direto e no terreno para a solução do problema palestino-israelense; bem como seus êxitos internamente. O orçamento da educação foi triplicado em 8 anos, passando de 17,4 bilhões de reais, em 2003, para 51 bilhões, destinando-se grande parte do aumento do PIB para a educação básica; e fevereiro registrou um recorde de 209.425 novos empregos formais, cifra que chega a 390.844 no primeiro bimestre do ano de 2010.

* Jornalista uruguaio que escreve regularmente no matutino La República, o texto foi publicado e traduzido por Adital

sexta-feira, 26 de março de 2010

Para reflexão: Não à energia nuclear nos EUA

Não sou muito fã do culto ao Tio Sam como potência mundial, etc. e tal, até porque, o império ianque já vem bambeando das pernas, como um velho paquiderme adoecido,  há muito, e já  já a potência amarela, a China, passar-lhe-á a rasteira. Mas, para dar continuidade ao efervescente debate sobre usinas nucleares, tema do meu post anterior, posto agora um artigo fenomenal, escrito por um ex-candidato à presidente norte-americano pelo PV, que desmonta o discurso falacioso que vem sendo disseminado em Sergipe - para justificar a possível vinda de uma usina nuclear para Canindé -, de que até o presidente Obama estaria retomando a matriz nuclear nos EUA depois de décadas sem levantar nenhum desses elefantes brancos, resultado do horror que o povo norte-americano tomou delas após a quase tragédia nuclear na usina de Three Mile Island, em 1979 (seria a Chernobyl ianque). 

E, no artigo, eis a explicação para esse súbito interesse do Obama: um tremendo lobby da indústria termonuclear estadunidense (que tem lá seus tentáculos poderosos por esta Pindorama de muitas saúvas e pouca saúde), com dinheiro grosso pra comprar o silêncio e a conivência dos congressistas, sejam democratas ou republicanos. 

Vale a pena a leitura desse artigo (e sua replicação). Enfim, sugeriria ao governador Marcelo Déda que fizesse uma profunda leitura desse texto. Quem sabe assim, não pára de alardear que o Barack é um barato por querer levantar mais umas usininhas atômicas em seu quintal. Ah! O artigo me foi enviado pelo companheiro ecologista Professor Palomares, da ONG Água é Vida, de Estância. Valeu, professor!
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Não à energia nuclear nos EUA



Por Ralph Nader*

Uma geração de estadunidenses cresceu sem ver nem ao menos uma construção de usina nuclear desde o episódio quase catastrófico de Three Mile Island, em 1979. Não foram expostos aos custos, perigos e riscos de segurança nacional associados às operações e grandes quantidades de lixo nuclear, nem à construção de estruturas de armazenamento que garantam a segurança do país por vários anos.

Os estadunidenses precisam se informar rapidamente, pois lobistas da indústria de energia atômica querem pôr na conta dos cidadãos a retomada nuclear. A menos que convençamos o Congresso a brecar esta forma excessivamente suja e complexa de aquecer água, gerando vapor para produção de energia, estaremos pagando por pesquisas, empréstimos e um seguro que poderia gerar um rombo estimado em trilhões de dólares, caso ocorra apenas um desastre– de acordo com a Comissão de Regulamentação Nuclear – isso sem contar com o vasto número de casualidades em longo prazo.

Os participantes desta roleta russa da indústria nuclear alegam que um acidente do nível 9 nunca ocorrerá. Que nenhum dos trens de carga, caminhões de frete e barcas carregando lixo tóxico sofrerá qualquer tipo de acidente catastrófico. Que terroristas certamente ignorarão as usinas atômicas e a possibilidade de sequestrar material radioativo; darão preferência a ataques de menor impacto e destruição. O pior acidente em um reator nuclear ocorreu em 1986, em Chernobyl, Ucrânia. Apesar de ter uma estrutura diferente das usinas estadunidenses, a resultante falha na retenção do material radioativo liberou uma nuvem tóxica que se espalhou ao redor do Planeta, concentrando- se, porém, com maior densidade em Belarus, Ucrânia, e Rússia Ocidental, e também sobre 40% do território europeu.

Por razões diferentes e por questões de interesse nacional e comercial, os números imediatos de mortes e doenças ligadas à radioatividade e as devastações em longo prazo causadas por essa forma invisível e quieta de violência, foram reduzidos. Eles também não mostraram muito interesse em monitorar e pesquisar os efeitos posteriores gerados por exposição à radioatividade.

No entanto, chega agora a mais abrangente tradução em inglês do atual relatório científico intitulado “Chernobyl: o impacto das consequências de uma catástrofe nas pessoas e no meio ambiente”, cujo autor é o biólogo Alexey V. Yablokov, membro da prestigiada Academia Russa de Ciência.

Podendo ser adquirida na Academia de Ciência de Nova Iorque (visite o site nyas.org/annals) , a análise, com um número densíssimo de referências, cobre os efeitos da exposição à radioatividade em grau agudo em socorristas e moradores daquela área que sofrem de doenças crônicas. O jornal estadunidenses “Today” confirma a reportagem: “Mais de 6 milhões de pessoas ainda vivem em áreas com níveis perigosos de contaminação – terras que continuarão contaminadas durante décadas e até séculos.

Voltamos aos EUA, onde, de forma deplorável, o Presidente Barak Obama insiste na criação de usinas “seguras e limpas de energia atômica”. Ele acaba de fazer um pedido de acréscimo de orçamento em US$ 54 bilhões para garantias de empréstimos saindo do bolso dos cidadãos, em cima dos US$ 18 bilhões previamente estipulados ainda na Era Bush. Como bem se sabe, os investidores de Wall Street não farão empréstimos às companhias de energia para erguer novas usinas nucleares em território nacional, que custam por volta de US$12 bilhões, caso o governo do Tio Sam não garanta 100% do investimento.

O estranho é que se essas usinas são tão eficientes, tão seguras, por que será que elas não são construídas sem as garantias de riscos pelo capital privado? A resposta para essa pergunta veio da declaração feita por Amory B. Lovins, Cientista chefe do Instituto Rocky Mountain, em Março de 2008, pouco antes do encontro com a Câmara de Representantes dos Estados Unidos, e o Select Committee on Energy Independence (rmi.org). Sua tese é esta: “a expansão da indústria de energia nuclear reduziria e retardaria os projetos de proteção climática e nossa segurança quanto à questão de energia... mas não sobreviveria ao apetite do capitalismo de livre mercado.”

Defendendo seus argumentos de forma clara, Lovins, consultor do Departamento de Defesa dos EUA, demonstrou através de números e outros dados que a energia nuclear “está perdendo drasticamente competitividade no mercado global quando comparada às energias limpas ou de baixo teor de emissão carbônica, que produzem mais soluções por dólar gasto em bem menos tempo”. Isso sem incluir os riscos de acidente e sabotagem. Segundo ele, “já que não é econômica e bastante desnecessária [a energia nuclear], não foi preciso incluir esses outros atributos”. Energias renováveis (ex.: energia eólica), co-geração de energia e usinas eficientes já são superiores e mais fáceis de custear. Desafio qualquer representante da indústria nuclear ou da Academia a debater com Lovins no National Press Club em Washington D.C., mediado por um representante neutro, ou diante do Comitê do Congresso.

No entanto, uma onda de lobistas da indústria nuclear está ganhando força no Congresso, atirando dinheiro para todos os lados sob o falso pretexto de preocupar-se com as questões relacionadas ao aquecimento global e a utilização de combustível fóssil.

Os críticos da energia nuclear que detém certo poder de influência no Congresso querem que as propostas foquem nas mudanças climáticas. Para combater a oposição, eles negociaram um acordo que dava status a reatores nucleares com garantias de empréstimos e outros subsídios em legislações semelhantes, já aprovados pelo Congresso, porém, como de costume, que ainda transitam a passo de cágado no Senado.

Experientes e firmes oponentes da energia atômica e líderes nas questões de combate às mudanças do clima, como o congressista Ed Makey (D-MA), permanecem calados enquanto republicanos (que amam os subsídios do Governo) e alguns democratas esperneiam por energia nuclear. Todo esse alarde desvaloriza o esforço de organizações como Union of Concerned Scientists, NIRS, Friends of the Earth e outros grupos de cidadãos bem estabelecidos que lutam por meios mais seguros, eficientes, rápidos e limpos de produção de energia para nosso país e também para o mundo.

Recentemente, um panfleto bem desenvolvido e documentado do Beyond Nuclear resumiu o argumento contra a energia nuclear em três palavras: “cara, perigosa, suja”. A claridade e o detalhamento preciso do documento torna-o esclarecedor tanto para amigos, vizinhos, quanto para colegas de trabalho. É possível baixá-lo de graça para reprodução livre no site www.BeyondNuclear. org. Vale a pena gastar os 10-15 minutos que levam para absorver certas verdades a respeito dessa complexa tecnologia – repleta de problemas e altos valores de custo de manutenção – e que está na pauta do Governo desde 1950.

*Economista e político. Ex-candidato “a presidência dos EUA pelo Partido Verde


(Fonte: Envolverde/ Revista Eco21)

terça-feira, 23 de março de 2010

Déda, uma usina nuclear e um constituinte


Idos de 1989 e, na Assembleia Legislativa de Sergipe, desfilava, altivo, um dos deputados mais atuantes daquela nova legislatura. Sujeito oriundo da classe trabalhadora, forjado nas lutas sociais que perpassaram os Anos de Chumbo até que o último facínora de farda fosse defenestrado do poder. Nas ruas, o movimento das massas não mais podia ser barrado, nem pelos blindados, e o grito de liberdade não mais podia ser abafado. Redemocratização, “Diretas Já!”, anistia, Tancredo eleito, e um sopro balsâmico de esperança e renovação trazia um alívio ao castigado povo brasileiro.

Ele estava lá! Acompanhou tudo isso, viveu cada momento e ali se fez homem de esquerda, da esquerda, ao lado daqueles que lutaram por um outro mundo possível, e, embalado por versos de José Martí e outros poetas revolucionários, sonhou ser capaz de fazer do seu pequeno Sergipe uma terra com justiça social.

O ano era 1989, e coube aos constituintes, deputados eleitos no ano anterior, cumprir a tarefa de, norteados pela recém-promulgada Constituição Cidadã brasileira, elaborar e promulgar um texto que promovesse e respeitasse as liberdades individuais, a dignidade da pessoa humana e o progresso sustentável do Estado de Sergipe.

E sonhando o sonho possível, ele estava lá, entre os constituintes eleitos. Neófito, ele, eleito pelo Partido dos Trabalhadores, que alimentado pelo sangue e suor dos operários metalúrgicos do ABC paulista, ganhou o Brasil numa trajetória surpreendente, desafiadora, regada a muita esperança e fé. Marcelo Déda Chagas, deputado constituinte, esperança do povo trabalhador de Sergipe.

Lendo os anais da Assembleia Legislativa do Estado desse tempo, é possível ver a desenvoltura com que o jovem parlamentar petista apresentava emendas e sugestões para a nova Constituição, e como as defendia. E, penso, estava encravada em sua alma a certeza de que o que escrevia e apresentava como propostas à Constituição sergipana era fruto das suas mais profundas convicções de um mundo melhor para aquela e para a vindoura geração de sergipanos.

E foi com essa convicção que, tenho certeza, o então deputado constituinte Marcelo Déda, a lado do seu companheiro de partido, Marcelo Ribeiro, apresentou a Emenda nº 184, propondo que ao então Art. 157 fosse acrescido o seguinte parágrafo:

“Fica proibida a construção de usinas nucleares, o transporte de cargas radioativas e o depósito de lixo atômico no território estadual”. [Sala das Comissões, 12 de maio de 1989].

Claro, a emenda pecava pelo excesso de zelo. Proibir transporte de cargas radioativas significaria impedir também o transporte de material radioterápico, como os alimentadores de aparelhos de Raio X, por exemplo, ou de uso científico. Não por menos, o relator, Nicodemos Falcão, 17 dias depois, votou pela rejeição da Emenda 184.

Mas convicto que estava sobre sua propositura, de que seria necessário resguardar os sergipanos do perigo que representavam as usinas nucleares e o seu lixo radioativo, costurou um acordo, sugeriu nova redação, acatou sugestões e a emenda, para sua íntima alegria, acabou sendo aprovada e figurou na Constituição de Sergipe, como parágrafo 8º do Art.232, com a seguinte redação:

“Art. 232. (...). § 8º Ficam proibidos a construção de usinas nucleares e depósito de lixo atômico no território estadual, bem como o transporte de cargas radioativas, exceto quando destinadas a fins terapêuticos, técnicos e científicos, obedecidas as especificações de segurança em vigor.”

21 anos depois, os tempos são outros... e os políticos também. Há um provérbio popular, de autor desconhecido, que diz: “Não importa o que o passado fez de mim. Importa é o que farei com o que o passado fez de mim”.

Parece que o passado, para o companheiro Marcelo Déda, não lhe serviu como balizador para as suas ações presentes. Longe disso, tornou-se um fardo, e a história que ajudou a escrever, um mero roteiro de teatro do absurdo, do qual foi um ator pueril e que, cujas cenas, haverão de ser apagadas, esquecidas. E para isso ele trabalha.


“Não posso fechar os olhos com preconceito. A instalação de usina nuclear é viável, sim, aqui no Estado”, brada agora o governador Marcelo Déda, ardoroso defensor da usina, que vai requerer vultosos R$ 13 bilhões do dinheiro do povo para funcionar. Adeus constituinte Marcelo Déda! Pras cucuias o sonho de uma sociedade segura e sem presença de lixo nuclear! As gerações futuras que se virem, nos próximos mil anos, com o bagulho que ficar! O que interessa são os investimentos que o empreendimento irá trazer! Importante é gerar energia para o grande capital consumir! Business is business!

“A geração de empregos para a região melhoraria de forma surpreendente os indicadores sociais. A população de Sergipe está preparada e ansiosa para receber um empreendimento importante assim”, assevera o “nuevo” Déda.

Ao que parece, o andar coladinho com o empresário tucano Albano Franco, sempre ávido por bons negócios que impulsionem suas empresas e inflem os seus lucros e o da sua família, contagiou aquele que, em tempos outros, tinha ojeriza a empresários, indignava-se com os grandes capitalistas e sua ganância, tinha repulsa às oligarquias sanguessugas e às elites parasitas.

Sinceramente, triste do homem que apaga a sua história em nome de uma falsa modernidade, de uma ilusória nova visão da realidade. Nem a usina nuclear vai gerar empregos duradouros (mas somente mão de obra para a sua construção), nem vai levar prosperidade e distribuição de renda para Canindé do São Francisco, tampouco para os sergipanos.

Fosse certo o raciocínio do governador, assim como o daqueles que defendem com veemência (e interesses pessoais camuflados) a instalação da tal usina atômica em solo sergipano, o povo de Canindé estaria vivendo num mar de prosperidade, num paraíso do capital, uma Suíça tropicaliente. Afinal, a hidroelétrica de Xingó também chegou com esse objetivo, e o que se vê por lá? Uns poucos muito ricos (e querendo cada vez mais) e uns muitos extremamente pobres.

Canindé tem um PIB per capita de cerca de R$ 83 mil (IBGE/2004), o segundo maior entre os municípios sergipanos -
graças aos royalties da usina de Xingó -, perdendo apenas para Aracaju,  mas a maior parte da população vive na miséria e o seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é dos mais baixos. Onde está a distribuição de renda e o progresso em Canindé? E os empregos, para onde foram depois que a construção de Xingó findou? Bem assim será com uma usina nuclear. O que ficará então? A riqueza para alguns e o lixo radioativo para todos. Sendo que os endinheirados têm lá seus jatinhos e helicópteros para uma fuga emergencial, em caso de vazamento.

Além disso, esqueceram de avisar ao companheiro Déda que usinas nucleares têm vida útil estimada entre 35 e 40 anos. Neste período, por exemplo, a usina de Angra I deve gerar 915 toneladas de combustível usado, um lixo que inclui o perigosíssimo plutônio, cuja radiação permanece ativa por milhares de anos.

Felizes os que morrem defendendo com firmeza os seus ideais e as páginas que escreveu ou ajudou a escrever; tristes os que fazem destes ideais trampolins para aventuras políticas pouco edificantes. Não! Apaguem o que escrevi! Emendem a emenda! Corrijam meus arroubos de revolucionário de falsas patentes! Assim poderei dormir mais tranquilo...

E imaginar que o agora governador Marcelo Déda jurou, em 1º de janeiro de 2007, quando tomou posse como chefe do Executivo sergipano, respeitar a Constituição do seu Estado, juramento este sobre páginas e letras escritas pelo constituinte Marcelo Déda... Pelo jeito, letras mortas!

quinta-feira, 18 de março de 2010

A faixa que zoou o prefeito Edvaldo Nogueira


Curiosa e pra lá de bem bolada a faixa que infernizou o prefeito Edvaldo Nogueira na sua passagem pelo evento "Aracaju de Tó-tó-tó", ontem, na praça do Inácio Barbosa, de onde saiu a famosa barqueata anual.

Em meio a tantas faixas pregadas por toda a praça e adjacências elogiando a cidade pelo seu 155º aniversário, e também saudando a sempre animada barqueata, a que me refiro chamou a atenção, e fez muitos assessores e apoiadores do prefeito comunista torcerem o nariz. Veja que sacação:

O prefeito Edvaldo Nogueira é assim:
Na hora do voto, JARDIM!
Na hora da obra, JARDINS!

Uma beleza o uso do jogo de palavras, trabalhando o nome do conjunto com o quase homônimo bairro Jardins - que recebe vultosos investimentos de infraestrutura por abrigar setores da classe média alta e dos endinheirados de Sergipe! 

A faixa, confeccionada pela Associação de Moradores do Conjunto Jardim Esperança, tinha muito mais, e cobrava a construção de uma praça, melhorias na creche e atenção especial à região próxima, chamada Pantanal. 

A bendita faixa perseguiu o prefeito enquanto ele caminhava saudando os presentes. Virou pano de fundo... Mas claro, ela não apareceu nas matérias jornalísticas no dia seguinte. Mas aqui, no CONEXÃO SE, ela aparece, está aí, logo abaixo!

Espremido entre os conjuntos de classe média Beira Rio e Inácio Barbosa, o Jardim Esperança cresceu em meio à probreza, violência e tráfico de drogas, e parecia ter esperança só no nome. Mas com muita luta dos seus moradores, aos poucos o conjunto foi recebendo melhorias, diminuindo a sua fama de bolsão de miséria e problemas, entretanto, ainda está longe de ser um espaço urbano com mais infraestrutura e decência para os seus moradores e que se harmonize com os outros dois conjuntos vizinhos. Não por menos, a luta dos seus moradores segue firme, cobrando do atual prefeito muito mais melhorias. 

De marqueteiro profissional, pelo menos, eles já mostraram que não precisam, porque a faixa que zoou o prefeito ontem está pra lá de bem bolada, mostrando que o povo também entende de marketing, ou, como dizem por lá, de marquitim...

George W. Silva



domingo, 14 de março de 2010

Transporte coletivo de Aracaju: se o osso tá duro de roer, por que os empresários não o largam?

Pode observar, se um cachorro encontra um osso e o rói sem parar, é porque ele está pra lá de suculento... mas depois de tanto roer e se fartar, uma hora ele larga o osso porque já não lhe serve, e o deixa pra trás, talvez para que outro cachorro, com mandíbulas mais fortes e dentes mais afiados, possa triturá-lo e retirar dele o apetitoso tutano.

Usando a mesma lógica da natureza, gostaria de levantar uma questão: por que os empresários que dominam o transporte coletivo da Grande Aracaju reclamam, reclamam mas não largam o osso da concessão pública que lhes garante, há décadas, a exploração das linhas de transporte coletivo sem concorrência e sem qualquer poder de contestação por parte da sociedade? Se o osso tá roído demais, por que não o deixam pra trás?

Essa questão me vem à mente em função da piada que foi a coletiva de imprensa patrocinada pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Aracaju – Setransp, na semana passada, num belo hotel da Orla de Atalaia, com o seu presidente, Adierson Monteiro, se esforçando para tentar minimizar a fama de vilão, sua e de seus pares, e explicar por que a qualidade do serviço prestado pelas empresas de ônibus aracajuanas é uma porcaria, mesmo com a tarifa subindo todos os anos muito acima da inflação.

Dupla piada, na verdade. A primeira, pela choradeira do presidente do Setransp, que reclamou disso, reclamou daquilo, jogou a culpa pela deficiência do transporte coletivo nas costas da sociedade e do poder público, no BNDES, no diesel que não baixa, no Congresso que não anda... Enfim, a mesma estratégia surrada de sempre dos sabidos empresários, seja de qual setor for: se a coisa vai bem, o crédito é deles; se vai mal, a culpa é do Estado, da população, dos políticos, do periquito, do papagaio, menos deles... Coisas do “capetalismo”.

A segunda piada, e essa me incomoda um bocado – porque se trata dos meus pares –, foi a infeliz subserviência dos colegas de imprensa que lá estiveram para cobrir o evento. Pelo que li na imprensa nos dias que se seguiram à coletiva dá para imaginar a cena, com o silêncio cortesão dos jornalistas e radialistas, sentadinhos em suas mesas, a ouvirem o pomposo discurso do “big boss” do empresariado do transporte coletivo, com seus slides, números e tabelas enfadonhas.

Vai ver, encantados com o café da manhã oferecido no belo hotel pelo empresário, os profissionais de imprensa presentes estavam ocupados demais beliscando os comes e se empapando com os bebes...

Porque não li uma única linha que questionasse o bom moço da Progresso por que do seu sindicato, ao pleitear aumento da tarifa de ônibus sempre muito acima da inflação do período, só apresenta a planilha de custos à Prefeitura, nunca a de LUCROS.

Não vi uma única reportagem que questionasse, por exemplo, qual a razão para, sendo empresário, o senhor Adierson ter medo da concorrência no setor em que ele atua, lembrando a ele que a lógica incorporada pelo empresariado em qualquer buraco do mundo e por aqueles que impunham a bandeira nefasta do neoliberalismo e a defendem até a morte, é a liberdade total dos mercados e a livre concorrência, e que na carnificina da disputa de mercado, que vença o melhor!

E aí, penso com os meus botões: por que é que essa lógica da livre concorrência vale para o Seu Zé da Bodega e não vale para os empresários de ônibus? Em lugar de fazer esse debate, o senhor Adierson vem com umas frases feitas por encomenda de que licitação “é um engodo”, e que “não será um papel que vai melhorar o setor”.

Com esse discurso, o bom moço acabou por assinar a sentença de incompetência do setor e reforça uma tese que defendo piamente: esta área estratégica para o desenvolvimento do município, a do transporte coletivo, deve mesmo é ficar sob a gerência do Estado, neste caso, a Prefeitura de Aracaju, que tem lá as suas deficiências de gestão, mas que poderia muito bem gerenciar o transporte público muito melhor que esses sabidos empresários, que só querem o lucro fácil, o capitalismo sem riscos.

Porque reclamar que o poder público não ajuda a melhorar o transporte coletivo, gerido pelo poder privado, é a saída mais fácil pra essa turma, é clichê, mas que mal pergunte: quem financiou 35 dos 100 ônibus novos que foram agregados à frota das empresas no início do ano? O Banco do ESTADO de Sergipe, o Banese. E sabe com que grana esses empresários vão pagar esse empréstimo e os demais empréstimos para aquisição dos outros 65 ônibus? Com o lucro da tarifa que os usuários dos coletivos pagam diariamente... Não sejamos bobos, do bolso deles que é bom, não sai um tostão! Quem paga essa conta, no final, é o povo, são os trabalhadores!

Além de capitalismo sem risco, ao dizer que não é um papel que vai melhorar o setor, é bom lembrar ao senhor Adierson que esse setor que ele fala é uma concessão pública, não é a casa da Mãe Joana, e precisa sim de concorrência, regras claras que sejam respeitadas e controle social, principalmente no tocante à discussão do valor da passagem. Por que o cidadão comum tem que respeitar diuturnamente as regras e as leis que lhes são impostas, mas o empresariado não?! As regras e leis devem funcionar para aqueles mas não para estes?

E por falar em leis a serem respeitadas, nenhum dos coleguinhas jornalistas questionou o presidente do Setransp a razão pela qual os empresários de ônibus da Grande Aracaju jamais respeitaram a Lei Municipal 1.765, de 1991, que obriga as suas empresas a depositarem, numa conta conjunta com a SMTT, o percentual de depreciação dos ônibus, já incluído na tarifa paga pela população, com o objetivo de renovar, quando preciso, a frota municipal.

Fazendo um cálculo por baixo, ao não depositaram um único centavo nesta conta, desrespeitando completamente a lei nas barbas do poder público, que também jamais cobrou tal cumprimento, as empresas de ônibus de Aracaju devem ao povo aracajuano um montante certamente superior a R$ 100 milhões! Porque o valente e corajoso ex-vereador da Capital, Antônio Góis, o Goisinho, então no PT, já apontava em 2004 que essa dívida das empresas para com o município beirava os R$ 70 milhões.

Então, em lugar do senhor Adierson afirmar que vai acionar a Prefeitura de Aracaju, portanto, o povo, na justiça para que os empresários de ônibus sejam ressarcidos por uma possível licitação que não lhes favoreça, como foi colocado na coletiva, defendo que o povo de Aracaju é quem deveria colocar esses senhores nas raias da justiça para que devolvam, com juros e correção monetária, o que desviaram nesses últimos 19 anos pelo não cumprimento da Lei 1.765/91, e os gestores públicos, que nada fizeram para impedir essa sangria, que igualmente sejam punidos por improbidade da grossa!

E fica aqui um recado ao empresariado de ônibus: se o osso tá duro de roer, é só largar! E aos colegas de imprensa, afiem tuas flechas! Porque, como escreveu sabiamente o mestre Cleomar Brandi, o bom jornalista “há que ir à luta, buscar a notícia, como o velho índio navajo vai à caça”.

A queda...


A cúpula da Revista Veja reuniu-se para discutir a queda  nas vendas... o clima esquentou e a coisa ficou feia!!! Vale a pena conferir!

sexta-feira, 5 de março de 2010

O rosnar golpista do Instituto Millenium


Excelente texto que posto aqui, do jornalista e cartunista Maringoni,  tratando sobre o  nauseante 1º Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, na verdade, reunião dos cabeças do PIG (Partido da Imprensa Golpista), em São Paulo, onde trataram de afinar o discurso e afiar as suas armas, porque não toleram os avanços sociais promovidos pelo governo Lula, nem as poucas, mas significativas conquistas dos movimentos sociais, em particular no tocante à comunicação, com os resultados positivos da I Confecom, tampouco engolem o avanço de Dilma e a possibilidade de uma mulher e ex-guerrilheira vir a governar o Brasil, logo após um metalúrgico! Não, é demais para essa gente!!!
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O rosnar golpista do Instituto Millenium
 
Não é bom subestimar os pitbulls da imprensa brasileira. A direita não costuma se unir apenas para tomar chá com torradas. Só não articulam um golpe por sua legitimidade social ser reduzida.
 
Por Gilberto Maringoni*

Vale a pena refletir mais um pouco sobre os significados e conseqüências do 1º Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, realizado pelo Instituto Millenium em São Paulo, na segunda-feira, 1º. de março.

A grande questão é: por que os barões da mídia resolveram convocar um evento público para discutir suas idéias? Tá bom, vamos combinar. A R$ 500 por cabeça não é bem um evento público. Mas era aberto a quem se dispusesse a pagar.


No subsolo do luxuoso hotel Golden Tulip estavam o que se poderia chamar de agregados da Casa Grande dos monopólios da informação, como intelectuais de programa e jornalistas de vida fácil. Todos expuseram suas vísceras, em um strip-tease político e moral inigualável. Um espetáculo digno de nota. Nauseabundo, mas revelador.


Uma observação preliminar: os donos, os patrões, os proprietários enfim, tiveram um comportamento discreto e comedido ao microfone. Não xingaram e não partiram para a baixaria. Quem desempenhou esse papel foram os seus funcionários.


Nisso seguem de perto um ensinamento de Nelson Rockfeller (1908-1979), relatado em suas memórias. Quando resolveu disputar as eleições para governador de Nova York, em 1958, falou de seus planos à mãe, Abby Aldrich Rockefeller. Na lata, ela lhe perguntou: “Meu filho, isso não é coisa para nossos empregados”?


Os patrões deixaram o serviço sujo para os serviçais. Estes cumpriram o papel com entusiasmo.


Objetivos do convescote
 

Os propósitos do Fórum não são claros. Formalmente é a defesa da liberdade de expressão, sob o ponto de vista empresarial. Quem assistiu aos debates não deixou de ficar preocupado. Aos arranques, os pitbulls da grande mídia atacaram toda e qualquer tentativa de se jogar luz no comportamento dos meios de comunicação.

Talvez o maior significado do encontro esteja em sua própria realização. Não é todo dia que os donos da Folha, da Globo e da Abril se juntam, deixando de lado arestas concorrenciais, para pensarem em táticas comuns na cena política nacional.


Um alerta sobre articulações desse tipo foi feita por Cláudio Abramo (1923-1987), em seu livro “A regra do jogo”, publicado em 1988. A certa altura, ele relata uma conversa mantida com Darcy Ribeiro (1922-1997), no início de março de 1964. “Alertei-o de que dias antes, o dr. Julinho [Mesquita, dono de O Estado de S. Paulo] havia visitado Assis Chateubriand [dos Diários Associados], e que aquilo era sinal seguro de que o golpe estava na rua. Porque a burguesia é muito atilada nessas coisas, não tem os preconceitos pueris da esquerda. Na hora H ela se une”.


Pois no Instituto Millenium estavam unidos Roberto Civita [Abril], Otávio Frias Filho [Folha] e Roberto Irineu Marinho [Globo]. Sem mais nem porquê.


Não se pode dizer que a turma resolveu botar o golpe na rua. Mas é sintomática a realização do evento quase no mesmo dia em que a candidatura de Dilma Roussef empatou com a de José Serra, de acordo com o Datafolha. Ou que ele aconteça quando os partidos conservadores – PSDB e DEM – estejam às voltas com crises sérias.


O que isso quer dizer? Quer dizer que as representações institucionais da direita brasileira estão se esfarelando. Seu candidato não sabe se vai ou se não vai. Apesar de o governo Lula garantir altos ganhos ao capital financeiro, deixando intocada a política econômica neoliberal, este não é o governo dos sonhos da plutocracia pátria. Elas não suportam conviver com a ala popular, minoritária na gestão do ex-metalúrgico. Deploram a política externa, a não criminalização dos movimentos sociais e a possibilidade de um governo Dilma acatar indicações das várias conferências temáticas realizadas nos últimos anos, como a de Direitos Humanos e a de Comunicação (Confecom).


Incômodo com a Confecom


Falar nisso, há um nítido incômodo com os resultados da Confecom. A grande mídia não tolera que o tema da democratização das comunicações tenha entrado na agenda nacional.

A reação a tais movimentações sociais tem mudado substancialmente a imprensa brasileira. Para pior, vale sublinhar. Para perceber isso, vale a pena fazer uma brevíssima recuperação histórica.


Nos anos anteriores a 1964, a grande mídia – O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil, O Globo, Folha de S. Paulo e Diários Associados, entre outros – tornou-se propagandista e operadora do golpe militar. Colheu desgaste e sofreu censura, anos depois.


O primeiro órgão a notar que, para viabilizar seus propósitos empresariais, necessitava mudar de comportamento foi a Folha de S. Paulo. Com um jornal sem importância antes até o inícios dos anos 1970 e acusado de auxiliar o aparato repressivo da ditadura, seus proprietários perceberam que para mudar sua inserção no mercado valeria a pena abrir páginas para a oposição democrática.


Apostando na democratização


O projeto editorial de 1984 do jornal (
http://www1.folha.uol.com.br/folha/conheca/projetos-1984-3.shtml) dizia o seguinte:

“A Folha é o meio de comunicação menos conservador de toda a grande imprensa brasileira. (...) É com certeza o que encontra maior repercussão entre os jovens. Foi o que primeiro compreendeu as possibilidades da abertura política e o que mais se beneficiou com ela, beneficiando a democratização. É o jornal pelo que a maioria dos intelectuais optou. É o mais discutido nas escolas de comunicação e nos debates sobre a imprensa brasileira”.


Ou seja, percebendo que a democratização lhe granjeava dividendos comerciais, o jornal deu espaço para lideranças, intelectuais e temas identificados com a mudança, em tempos finais da ditadura.


Topo da pirâmide


Vinte e três anos depois, em 11 de novembro de 2007, a Folha publicaria uma pesquisa sobre seu público, intitulada “Leitor da Folha está no topo da pirâmide social brasileira” (
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1111200715.htm). Logo na abertura, a matéria destaca:

“O leitor da Folha está no topo da pirâmide da população brasileira: 68% têm nível superior (no país, só 11% passaram pela universidade) e 90% pertencem às classes A e B (contra 18% dos brasileiros). A maioria é branca, católica, casada, tem filhos e um bicho de estimação”.


Saem de cena os “os intelectuais”, “os debates sobre imprensa brasileira” e entram os endinheirados. Do ponto de vista empresarial é isso mesmo. Jornal tem de vender e veicular anúncios a quem tem alta capacidade de consumo.


Mas para atender a essa lógica, movimentações editoriais são feitas. Ao invés de se priorizar um limitado pluralismo anterior, passam-se a criar cadernos e atrações voltados para os novos desígnios do público. E a linha editorial e os colunistas passam a ser cada vez mais conservadores.


A Folha beneficiou-se e soube utilizar em proveito próprio do formidável impulso democrático da sociedade brasileira dos anos 1980. Quase três décadas depois, percebe que a continuidade desse movimento não lhe interessa. E se insurge contra ele, com seus pares empresariais, entrando de cabeça nos fóruns do Instituto Millenium.


Golpe em marcha?


Articulações desse tipo são geralmente danosas à democracia. Sempre que ficam carentes de representações, as classes dominantes (chamemos as “elites” por seu nome real) entram no jogo institucional de forma truculenta e atabalhoada. Buscam impor sua vontade a ferro e fogo, uma vez que as regras do convívio político não lhes interessam mais. Seus impulsos são sempre pela ruptura dessas regras. Pelo golpe.


Foi o que aconteceu na Venezuela, em 2002. Com a falência dos partidos de direita e com a avassaladora legitimidade do governo Hugo Chávez, as oligarquias locais – em associação com a Casa Branca, com a cúpula das forças armadas e com a grande mídia – partiram para a ignorância. E se deram mal.


Não é pouca coisa a afirmação do ex-filósofo Roberto Romano, durante o Fórum do Instituto Millenium: “O aspecto ditatorial do Plano Nacional dos Direitos Humanos passaria em branco, não fosse o descontentamento manifestado pelos militares”. Logo quem o professor de Ética (!) invoca como paladinos da democracia...


A tática golpista vingará por aqui? Pouco provável, pois seus defensores encontram-se isolados. O destempero exibido por alguns palestrantes durante o evento – notadamente Romano, Jabor, Reinaldo Azevedo, Marcelo Madureira, Sidnei Basile, Denis Rosenfield e Demetrio Magnoli – é uma patente demonstração de seu reduzido apoio social.


No entanto, não se pode subestimar essa turma. Como interpretar a delirante intervenção de Arnaldo Jabor, ao dizer que “A questão é como impedir politicamente o pensamento de uma velha esquerda que não deveria mais existir no mundo”? Como chegar a tal objetivo se não pela quebra da democracia?



*Gilberto Maringoni, jornalista e cartunista, é doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de “A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez” (Editora Fundação Perseu Abramo).