Não sou muito fã do culto ao Tio Sam como potência mundial, etc. e tal, até porque, o império ianque já vem bambeando das pernas, como um velho paquiderme adoecido, há muito, e já já a potência amarela, a China, passar-lhe-á a rasteira. Mas, para dar continuidade ao efervescente debate sobre usinas nucleares, tema do meu post anterior, posto agora um artigo fenomenal, escrito por um ex-candidato à presidente norte-americano pelo PV, que desmonta o discurso falacioso que vem sendo disseminado em Sergipe - para justificar a possível vinda de uma usina nuclear para Canindé -, de que até o presidente Obama estaria retomando a matriz nuclear nos EUA depois de décadas sem levantar nenhum desses elefantes brancos, resultado do horror que o povo norte-americano tomou delas após a quase tragédia nuclear na usina de Three Mile Island, em 1979 (seria a Chernobyl ianque).
E, no artigo, eis a explicação para esse súbito interesse do Obama: um tremendo lobby da indústria termonuclear estadunidense (que tem lá seus tentáculos poderosos por esta Pindorama de muitas saúvas e pouca saúde), com dinheiro grosso pra comprar o silêncio e a conivência dos congressistas, sejam democratas ou republicanos.
Vale a pena a leitura desse artigo (e sua replicação). Enfim, sugeriria ao governador Marcelo Déda que fizesse uma profunda leitura desse texto. Quem sabe assim, não pára de alardear que o Barack é um barato por querer levantar mais umas usininhas atômicas em seu quintal. Ah! O artigo me foi enviado pelo companheiro ecologista Professor Palomares, da ONG Água é Vida, de Estância. Valeu, professor!
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Não à energia nuclear nos EUA
Por Ralph Nader*
Uma geração de estadunidenses cresceu sem ver nem ao menos uma construção de usina nuclear desde o episódio quase catastrófico de Three Mile Island, em 1979. Não foram expostos aos custos, perigos e riscos de segurança nacional associados às operações e grandes quantidades de lixo nuclear, nem à construção de estruturas de armazenamento que garantam a segurança do país por vários anos.
Os estadunidenses precisam se informar rapidamente, pois lobistas da indústria de energia atômica querem pôr na conta dos cidadãos a retomada nuclear. A menos que convençamos o Congresso a brecar esta forma excessivamente suja e complexa de aquecer água, gerando vapor para produção de energia, estaremos pagando por pesquisas, empréstimos e um seguro que poderia gerar um rombo estimado em trilhões de dólares, caso ocorra apenas um desastre– de acordo com a Comissão de Regulamentação Nuclear – isso sem contar com o vasto número de casualidades em longo prazo.
Os participantes desta roleta russa da indústria nuclear alegam que um acidente do nível 9 nunca ocorrerá. Que nenhum dos trens de carga, caminhões de frete e barcas carregando lixo tóxico sofrerá qualquer tipo de acidente catastrófico. Que terroristas certamente ignorarão as usinas atômicas e a possibilidade de sequestrar material radioativo; darão preferência a ataques de menor impacto e destruição. O pior acidente em um reator nuclear ocorreu em 1986, em Chernobyl, Ucrânia. Apesar de ter uma estrutura diferente das usinas estadunidenses, a resultante falha na retenção do material radioativo liberou uma nuvem tóxica que se espalhou ao redor do Planeta, concentrando- se, porém, com maior densidade em Belarus, Ucrânia, e Rússia Ocidental, e também sobre 40% do território europeu.
Por razões diferentes e por questões de interesse nacional e comercial, os números imediatos de mortes e doenças ligadas à radioatividade e as devastações em longo prazo causadas por essa forma invisível e quieta de violência, foram reduzidos. Eles também não mostraram muito interesse em monitorar e pesquisar os efeitos posteriores gerados por exposição à radioatividade.
No entanto, chega agora a mais abrangente tradução em inglês do atual relatório científico intitulado “Chernobyl: o impacto das consequências de uma catástrofe nas pessoas e no meio ambiente”, cujo autor é o biólogo Alexey V. Yablokov, membro da prestigiada Academia Russa de Ciência.
Podendo ser adquirida na Academia de Ciência de Nova Iorque (visite o site nyas.org/annals) , a análise, com um número densíssimo de referências, cobre os efeitos da exposição à radioatividade em grau agudo em socorristas e moradores daquela área que sofrem de doenças crônicas. O jornal estadunidenses “Today” confirma a reportagem: “Mais de 6 milhões de pessoas ainda vivem em áreas com níveis perigosos de contaminação – terras que continuarão contaminadas durante décadas e até séculos.
Voltamos aos EUA, onde, de forma deplorável, o Presidente Barak Obama insiste na criação de usinas “seguras e limpas de energia atômica”. Ele acaba de fazer um pedido de acréscimo de orçamento em US$ 54 bilhões para garantias de empréstimos saindo do bolso dos cidadãos, em cima dos US$ 18 bilhões previamente estipulados ainda na Era Bush. Como bem se sabe, os investidores de Wall Street não farão empréstimos às companhias de energia para erguer novas usinas nucleares em território nacional, que custam por volta de US$12 bilhões, caso o governo do Tio Sam não garanta 100% do investimento.
O estranho é que se essas usinas são tão eficientes, tão seguras, por que será que elas não são construídas sem as garantias de riscos pelo capital privado? A resposta para essa pergunta veio da declaração feita por Amory B. Lovins, Cientista chefe do Instituto Rocky Mountain, em Março de 2008, pouco antes do encontro com a Câmara de Representantes dos Estados Unidos, e o Select Committee on Energy Independence (rmi.org). Sua tese é esta: “a expansão da indústria de energia nuclear reduziria e retardaria os projetos de proteção climática e nossa segurança quanto à questão de energia... mas não sobreviveria ao apetite do capitalismo de livre mercado.”
Defendendo seus argumentos de forma clara, Lovins, consultor do Departamento de Defesa dos EUA, demonstrou através de números e outros dados que a energia nuclear “está perdendo drasticamente competitividade no mercado global quando comparada às energias limpas ou de baixo teor de emissão carbônica, que produzem mais soluções por dólar gasto em bem menos tempo”. Isso sem incluir os riscos de acidente e sabotagem. Segundo ele, “já que não é econômica e bastante desnecessária [a energia nuclear], não foi preciso incluir esses outros atributos”. Energias renováveis (ex.: energia eólica), co-geração de energia e usinas eficientes já são superiores e mais fáceis de custear. Desafio qualquer representante da indústria nuclear ou da Academia a debater com Lovins no National Press Club em Washington D.C., mediado por um representante neutro, ou diante do Comitê do Congresso.
No entanto, uma onda de lobistas da indústria nuclear está ganhando força no Congresso, atirando dinheiro para todos os lados sob o falso pretexto de preocupar-se com as questões relacionadas ao aquecimento global e a utilização de combustível fóssil.
Os críticos da energia nuclear que detém certo poder de influência no Congresso querem que as propostas foquem nas mudanças climáticas. Para combater a oposição, eles negociaram um acordo que dava status a reatores nucleares com garantias de empréstimos e outros subsídios em legislações semelhantes, já aprovados pelo Congresso, porém, como de costume, que ainda transitam a passo de cágado no Senado.
Experientes e firmes oponentes da energia atômica e líderes nas questões de combate às mudanças do clima, como o congressista Ed Makey (D-MA), permanecem calados enquanto republicanos (que amam os subsídios do Governo) e alguns democratas esperneiam por energia nuclear. Todo esse alarde desvaloriza o esforço de organizações como Union of Concerned Scientists, NIRS, Friends of the Earth e outros grupos de cidadãos bem estabelecidos que lutam por meios mais seguros, eficientes, rápidos e limpos de produção de energia para nosso país e também para o mundo.
Recentemente, um panfleto bem desenvolvido e documentado do Beyond Nuclear resumiu o argumento contra a energia nuclear em três palavras: “cara, perigosa, suja”. A claridade e o detalhamento preciso do documento torna-o esclarecedor tanto para amigos, vizinhos, quanto para colegas de trabalho. É possível baixá-lo de graça para reprodução livre no site www.BeyondNuclear. org. Vale a pena gastar os 10-15 minutos que levam para absorver certas verdades a respeito dessa complexa tecnologia – repleta de problemas e altos valores de custo de manutenção – e que está na pauta do Governo desde 1950.
*Economista e político. Ex-candidato “a presidência dos EUA pelo Partido Verde
Uma geração de estadunidenses cresceu sem ver nem ao menos uma construção de usina nuclear desde o episódio quase catastrófico de Three Mile Island, em 1979. Não foram expostos aos custos, perigos e riscos de segurança nacional associados às operações e grandes quantidades de lixo nuclear, nem à construção de estruturas de armazenamento que garantam a segurança do país por vários anos.
Os estadunidenses precisam se informar rapidamente, pois lobistas da indústria de energia atômica querem pôr na conta dos cidadãos a retomada nuclear. A menos que convençamos o Congresso a brecar esta forma excessivamente suja e complexa de aquecer água, gerando vapor para produção de energia, estaremos pagando por pesquisas, empréstimos e um seguro que poderia gerar um rombo estimado em trilhões de dólares, caso ocorra apenas um desastre– de acordo com a Comissão de Regulamentação Nuclear – isso sem contar com o vasto número de casualidades em longo prazo.
Os participantes desta roleta russa da indústria nuclear alegam que um acidente do nível 9 nunca ocorrerá. Que nenhum dos trens de carga, caminhões de frete e barcas carregando lixo tóxico sofrerá qualquer tipo de acidente catastrófico. Que terroristas certamente ignorarão as usinas atômicas e a possibilidade de sequestrar material radioativo; darão preferência a ataques de menor impacto e destruição. O pior acidente em um reator nuclear ocorreu em 1986, em Chernobyl, Ucrânia. Apesar de ter uma estrutura diferente das usinas estadunidenses, a resultante falha na retenção do material radioativo liberou uma nuvem tóxica que se espalhou ao redor do Planeta, concentrando- se, porém, com maior densidade em Belarus, Ucrânia, e Rússia Ocidental, e também sobre 40% do território europeu.
Por razões diferentes e por questões de interesse nacional e comercial, os números imediatos de mortes e doenças ligadas à radioatividade e as devastações em longo prazo causadas por essa forma invisível e quieta de violência, foram reduzidos. Eles também não mostraram muito interesse em monitorar e pesquisar os efeitos posteriores gerados por exposição à radioatividade.
No entanto, chega agora a mais abrangente tradução em inglês do atual relatório científico intitulado “Chernobyl: o impacto das consequências de uma catástrofe nas pessoas e no meio ambiente”, cujo autor é o biólogo Alexey V. Yablokov, membro da prestigiada Academia Russa de Ciência.
Podendo ser adquirida na Academia de Ciência de Nova Iorque (visite o site nyas.org/annals) , a análise, com um número densíssimo de referências, cobre os efeitos da exposição à radioatividade em grau agudo em socorristas e moradores daquela área que sofrem de doenças crônicas. O jornal estadunidenses “Today” confirma a reportagem: “Mais de 6 milhões de pessoas ainda vivem em áreas com níveis perigosos de contaminação – terras que continuarão contaminadas durante décadas e até séculos.
Voltamos aos EUA, onde, de forma deplorável, o Presidente Barak Obama insiste na criação de usinas “seguras e limpas de energia atômica”. Ele acaba de fazer um pedido de acréscimo de orçamento em US$ 54 bilhões para garantias de empréstimos saindo do bolso dos cidadãos, em cima dos US$ 18 bilhões previamente estipulados ainda na Era Bush. Como bem se sabe, os investidores de Wall Street não farão empréstimos às companhias de energia para erguer novas usinas nucleares em território nacional, que custam por volta de US$12 bilhões, caso o governo do Tio Sam não garanta 100% do investimento.
O estranho é que se essas usinas são tão eficientes, tão seguras, por que será que elas não são construídas sem as garantias de riscos pelo capital privado? A resposta para essa pergunta veio da declaração feita por Amory B. Lovins, Cientista chefe do Instituto Rocky Mountain, em Março de 2008, pouco antes do encontro com a Câmara de Representantes dos Estados Unidos, e o Select Committee on Energy Independence (rmi.org). Sua tese é esta: “a expansão da indústria de energia nuclear reduziria e retardaria os projetos de proteção climática e nossa segurança quanto à questão de energia... mas não sobreviveria ao apetite do capitalismo de livre mercado.”
Defendendo seus argumentos de forma clara, Lovins, consultor do Departamento de Defesa dos EUA, demonstrou através de números e outros dados que a energia nuclear “está perdendo drasticamente competitividade no mercado global quando comparada às energias limpas ou de baixo teor de emissão carbônica, que produzem mais soluções por dólar gasto em bem menos tempo”. Isso sem incluir os riscos de acidente e sabotagem. Segundo ele, “já que não é econômica e bastante desnecessária [a energia nuclear], não foi preciso incluir esses outros atributos”. Energias renováveis (ex.: energia eólica), co-geração de energia e usinas eficientes já são superiores e mais fáceis de custear. Desafio qualquer representante da indústria nuclear ou da Academia a debater com Lovins no National Press Club em Washington D.C., mediado por um representante neutro, ou diante do Comitê do Congresso.
No entanto, uma onda de lobistas da indústria nuclear está ganhando força no Congresso, atirando dinheiro para todos os lados sob o falso pretexto de preocupar-se com as questões relacionadas ao aquecimento global e a utilização de combustível fóssil.
Os críticos da energia nuclear que detém certo poder de influência no Congresso querem que as propostas foquem nas mudanças climáticas. Para combater a oposição, eles negociaram um acordo que dava status a reatores nucleares com garantias de empréstimos e outros subsídios em legislações semelhantes, já aprovados pelo Congresso, porém, como de costume, que ainda transitam a passo de cágado no Senado.
Experientes e firmes oponentes da energia atômica e líderes nas questões de combate às mudanças do clima, como o congressista Ed Makey (D-MA), permanecem calados enquanto republicanos (que amam os subsídios do Governo) e alguns democratas esperneiam por energia nuclear. Todo esse alarde desvaloriza o esforço de organizações como Union of Concerned Scientists, NIRS, Friends of the Earth e outros grupos de cidadãos bem estabelecidos que lutam por meios mais seguros, eficientes, rápidos e limpos de produção de energia para nosso país e também para o mundo.
Recentemente, um panfleto bem desenvolvido e documentado do Beyond Nuclear resumiu o argumento contra a energia nuclear em três palavras: “cara, perigosa, suja”. A claridade e o detalhamento preciso do documento torna-o esclarecedor tanto para amigos, vizinhos, quanto para colegas de trabalho. É possível baixá-lo de graça para reprodução livre no site www.BeyondNuclear. org. Vale a pena gastar os 10-15 minutos que levam para absorver certas verdades a respeito dessa complexa tecnologia – repleta de problemas e altos valores de custo de manutenção – e que está na pauta do Governo desde 1950.
*Economista e político. Ex-candidato “a presidência dos EUA pelo Partido Verde
(Fonte: Envolverde/ Revista Eco21)
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