segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Ocupem os canteiros!

Nem “Primavera Árabe”, nem “Verão Europeu”, tampouco “Outono Americano”. Estou aqui para levantar a bandeira do movimento “Ocupem os Canteiros de Aracaju e Façam Seus Negócios”. Sim, porque diante do que estão permitindo construir no meio do canteiro central da Avenida Melício Machado, já próximo do seu final, é coisa para indignar qualquer um.

Um espaço público – um canteiro central entrecortando uma avenida –, de repente, não mais que de repente, é cercado por tapumes para se dar início às obras de construção de um posto de abastecimento de combustíveis. Quem passa sempre por ali chega a ter a impressão de que haverá uma reforma do espaço ou melhorias feitas pela Prefeitura, afinal, trata-se de um canteiro largo. Que nada! Vai se construir mesmo um posto de abastecimento para veículos, com aval da EMURB, DER e ADEMA para isso. Tudo devidamente legalizado, com as licenças necessárias todas liberadas!

A construção de um posto de combustíveis no meio de uma avenida movimentada – principalmente nos finais de semana – e após uma curva sinuosa, onde vira-e-mexe acontecem acidentes gravíssimos é possível? E a menos de 100 metros de várias casas? No Reino dos “Quem pode, pode; quem não pode, se sacode”, sim, é possível.

Fica fácil de observar a facilidades com que o capitalista esperto e voraz se apropria de qualquer espaço público para fazer multiplicar seus interesses monetários – e com o devido apoio dos poderes públicos municipal, estadual e federal.

Por mais que pipoquem argumentos de que naquela região é preciso um posto de combustíveis, porque o mais próximo fica a alguns quilômetros e, sem concorrente, o preço do litro vai às alturas; ou que não querer a construção da “imprescindível” obra no meio de um canteiro é mentalidade de cidade pequena, pois no Rio de Janeiro e outras grandes cidades, isso é o que mais tem, peço permissão para discordar dos dois argumentos com duas réplicas simples:

Para o primeiro, mesmo concordando com a máxima do capital que diz que a concorrência é necessária para baixar os preços dos produtos, por se tratar de um espaço público, não deveria haver também concorrência, conforme as leis do Estado capitalista e democrático, para usufruto de tal terreno? Por que um “iluminado” apenas ganhou o direito de explorar a área?

Para o segundo, acho uma estultice tal argumento. Essa mania de copiar tudo o que vem de fora cegamente, como se fosse coisa boa, coisa da modernidade, pode nos levar a sair da condição de uma cidade ainda com possibilidades de um mínimo planejamento urbano favorável à ordenação dos seus espaços para uma empilhada cidade de carros, cimento, gente e problemas.

Fora a questão de segurança. Como todos sabem, caso seja mesmo construído, teremos um posto de gasolina e outros combustíveis altamente voláteis em meio a uma rodovia estadual de fluxo rápido de carros, e logo após uma curva sinuosa – para quem vem no sentido Centro-Robalo. E ali já aconteceram graves acidentes automobilísticos. Então, os argumentos contrários são mais sólidos que os favoráveis.

Agora, eu pergunto: tivesse um Zé Qualquer tido a brilhante ideia de deslanchar naquela área um bom negócio, do tipo uma inofensiva banquinha de revistas ou um barzinho bem transado para alegrar a vida da vizinhança e dos que vão e vem pela avenida, as mesmas EMURB, DER e ADEMA liberariam? Duvido.

Certamente viriam laudos e mais laudos contrários às “estapafúrdias” ideias. Enfim, seriam muitas as razões elencadas pelas doutas autoridades técnicas para barrar esses possíveis empreendimentos. E o Zé Qualquer, coitado, ficaria chupando o dedo. Mas sendo a ideia construir no mesmo lugar um belo posto de combustíveis para alimentar sedentos veículos automotores, ah, isso pode! Licença já!

A lição que fica é que na selvageria da modernização das nossas cidades, o grande capital se apropria expropriando, toda e qualquer área que valha a pena ao capital, e não quer saber se o empreendimento leva riscos à vida e ao meio ambiente, ou mesmo se o espaço é público. Aliás, quanto mais público, melhor! Porque o que vale é o lucro que se possa gerar a partir do menor investimento privado possível. Puro e simples assim. E a roda do sistema continua a girar, e ai de quem ousar pará-la.

Caso a construção do posto de combustíveis no canteiro central da Avenida Melício Machado siga adiante, o recado dado é: todo canteiro central de avenida é espaço para se explorar comercialmente. Portanto, caro amigo, se tem um dinheirinho acumulado e está a fim de montar um negócio pomposo (esqueça bancas de revista e barzinhos, que isso não dá Ibope), corra atrás do seu canteiro. Se o iluminado do futuro posto de combustíveis da Melício Machado pode, por que você não?



Artigo nosso publicado no Jornal do Dia, na sua edição de domingo, 8/01/2012.

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