"Se é para ser um rompimento mesmo, seja o que Deus quiser!". As palavras do líder do governo Marcelo Déda na Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese), Francisco Gualberto (PT), na fatídica sessão da segunda-feira 27, dita após a decisão da presidente da Casa, deputada Angélica Guimarães (PSC), de antecipar a eleição para a Mesa Diretora em um ano, joga para o divino o que é resultado da mais humana das relações de poder: a política. E como tudo que é fruto do fazer humano, também a política (e principalmente ela) é movida pelo jogo de interesses. Uma hora, o que pode ser bom para um partido ou agrupamento político, no momento seguinte, a depender da situação e dos interesses em vista, pode não ser.
É assim na política: os interesses mudam conforme a maré. E nesse mar, nem sempre a embarcação, seu comandante e toda a tripulação terão tempo bom para navegar. E com o rebuliço que aconteceu na Alese, muitos estão a preparar o bote salva-vidas, porque o tempo será de mar revolto, em meio a tempestades tropicais. E os primeiros corpos já começam a ‘boiar’, apontando que a eleição antecipada para a direção da Assembleia não passará em brancas nuvens. Até porque, PT e PMDB, os partidos do governador e do vice, Jackson Barreto, ficaram de fora da composição da Mesa diretiva para o biênio 2013/2014.
Avaliando friamente o episódio, alguns fatos chamam a atenção. Primeiro, a atual presidente reeleita antecipadamente Angélica Guimarães utilizou de uma manobra que foi logo tachada de “rasteira” e de “golpe” por governistas. Se foi golpe ou não, vale uma análise mais apurada. Do ponto de vista da presidente e dos 13 deputados que votaram favoráveis à proposta, não há que se falar em golpe ou rasteira, porque o que a deputada fez foi tão-somente interpretar (à luz de seus interesses imediatos e do seu grupo político, capitaneado pelos irmãos Amorim) a uma emenda ao Regimento da Casa, proposta em 2008, pelo mesmo líder governista Francisco Gualberto que esperneou e chamou de golpe e de rasteira a antecipação da eleição.
É preciso lembrar que o dispositivo engendrado por Gualberto e aprovado em 2008 prevê que “Para o segundo biênio de cada legislatura, a eleição da nova Mesa Diretora deverá ser realizada, em Sessão Especial, até o encerramento da Sessão Legislativa Ordinária do segundo ano da mesma legislatura”. Esse ‘até’ ficou como o pomo da discórdia...
Em 3 de dezembro de 2008, o ‘até’ funcionou muito bem para o então presidente Ulices Andrade – hoje conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Por interesses do governador e do seu bloco governista na Alese, foi fundamental antecipar de 15 de fevereiro do ano seguinte para o 3 de dezembro a recondução de todos os membros daquela Mesa Diretora, que incluía, além de Ulices, a hoje presidente Angélica Guimarães (PSC), então vice, e todos os três primeiros secretários, André Moura (PSC), hoje deputado federal, Adelson Barreto (PSB) e Conceição Vieira (PT), que desta vez, dançou, junto com o atual vice-presidente Garibalde Mendonça (PMDB). A oposição não chiou e também não se falou em golpe. Interessou a gregos e troianos e todos ficaram satisfeitos. Como foi decisão consensuado previamente com todos os parlamentares da Casa, não gerou qualquer atrito.
A perspectiva de ‘golpe’ urdida pelo líder Francisco Gualberto e reforçada por outros petistas, como Conceição Vieira, parte daí. Naquele momento, a antecipação foi de apenas dois meses e negociada antes. Desta feita, foi de um ano e discutida à boca miúda apenas com 14 deputados – os mesmos que ficaram e sacramentaram a fatídica votação de segunda. A própria Angélica, Adelson Barreto, Antônio Santos, Arnaldo Bispo, Augusto Bezerra, Capitão Samuel, Gilmar Carvalho, Gilson Andrade, Goretti Reis, Maria Mendonça, Paulinho da Varzinhas, Mundinho da Comase, Venâncio Fonseca e Zé Franco.
Os demais foram ‘pegos com as calças nas mãos’ e não tiveram qualquer possibilidade de reação ou de montar uma chapa. A saída foi se retirar do plenário. Pego também de surpresa, o governador Marcelo Déda teve que engolir seco a derrota palaciana e o racha na sua ‘base de vidro’.
Intrigante é que na mesma segunda-feira, o governador teve uma longa conversa com o empresário Edvan Amorim, o homem dos vários partidos na algibeira. Pelo jeito, a conversa não surtiu qualquer efeito, mesmo com a promessa do empresário de que não tinha qualquer interesse em criar tensões com o governo. Poucas horas depois, 10 mil volts de tensão pipocavam na Alese. E deu no que deu. Rompimento.
Mas o que tem deixado mesmo muito macaco velho da política de cabelo em pé foi ver a participação efetiva dos parlamentares do PSB do senador Valadares na manobra do grupo antecipista. Estavam lá Adelson Barreto (reeleito como primeiro secretário) e Maria Mendonça. Como explicar? Houve algum acordo selado entre os Amorim e Valadares? Esse acordo visa as eleições de 2012 para Aracaju ou já é uma ponte para 2014? Ou os dois deputados simplesmente ‘se rebelaram’. A última hipótese é bastante improvável. Quanto às demais, muito em breve saberemos, já que até agora as lideranças do PSB têm preferido o silêncio sepulcral. Cedo ou tarde, terão de dar explicações.
O líder da oposição na Casa, deputado Venâncio Fonseca (PP), tratou logo de ironizar. "Lá atrás, em 2008, não foi golpe. Agora, porque não interessa ao PT, é golpe. (...) Nessa Casa não tem criança. Gualberto alterou o regimento lá atrás e deixou a brecha porque era conveniente e poderia usar no momento certo. O problema é que o momento agora não foi favorável. Ninguém mudou uma vírgula da lei que ele redigiu", disse. E é verdade.
O que tirar então desse episódio? Um, que o governo agora sabe o que há muito já se sabia: ele nunca teve uma base sólida na Assembleia, mas apenas uma base aglutinada por interesses imediatos e passageiros, e que mais cedo ou mais tarde racharia... Rachou. Que o grupo liderado pelos Amorim, de apetite voraz, se fortalecia a cada eleição e, uma hora, o tubarão engordado daria o bote... Está dado. Que a corrida para 2014 começa desde já, com os agrupamentos já definindo que caminhos tomar. Então, façam suas apostas! E, por fim, que toda essa refrega também tem um outro objetivo muito claro nos seus bastidores: a indicação de quem fica com a vaga a ser aberta em 2013 no Paraíso da administração pública estadual (de polpuda remuneração, diga-se de passagem), o Tribunal de Contas do Estado, onde se entra basicamente por QI – Quem Indica.
A antecipação de eleição para a Mesa foi benéfica para Ulices em 2008, quando serviu para pavimentar o seu caminho para conselheiro da Corte de Contas. A mesma antecipação de agora também deve beneficiar a . Em 2013, é líquido e certo: estará na ponta da disputa pela vaga aberta com a aposentadoria do conselheiro Reinaldo Moura, a deputada Maria Angélica Guimarães. A indicação é da Assembleia Legislativa. E o desejo, a ribeirinha de Japoatã, que já foi governadora por dez dias – mesmo que quase ninguém lembre – alimenta há muito.
Golpe? Rasteira? Que nada! É apenas a danada da política. E não tem bobo nessa história.
É assim na política: os interesses mudam conforme a maré. E nesse mar, nem sempre a embarcação, seu comandante e toda a tripulação terão tempo bom para navegar. E com o rebuliço que aconteceu na Alese, muitos estão a preparar o bote salva-vidas, porque o tempo será de mar revolto, em meio a tempestades tropicais. E os primeiros corpos já começam a ‘boiar’, apontando que a eleição antecipada para a direção da Assembleia não passará em brancas nuvens. Até porque, PT e PMDB, os partidos do governador e do vice, Jackson Barreto, ficaram de fora da composição da Mesa diretiva para o biênio 2013/2014.
Avaliando friamente o episódio, alguns fatos chamam a atenção. Primeiro, a atual presidente reeleita antecipadamente Angélica Guimarães utilizou de uma manobra que foi logo tachada de “rasteira” e de “golpe” por governistas. Se foi golpe ou não, vale uma análise mais apurada. Do ponto de vista da presidente e dos 13 deputados que votaram favoráveis à proposta, não há que se falar em golpe ou rasteira, porque o que a deputada fez foi tão-somente interpretar (à luz de seus interesses imediatos e do seu grupo político, capitaneado pelos irmãos Amorim) a uma emenda ao Regimento da Casa, proposta em 2008, pelo mesmo líder governista Francisco Gualberto que esperneou e chamou de golpe e de rasteira a antecipação da eleição.
É preciso lembrar que o dispositivo engendrado por Gualberto e aprovado em 2008 prevê que “Para o segundo biênio de cada legislatura, a eleição da nova Mesa Diretora deverá ser realizada, em Sessão Especial, até o encerramento da Sessão Legislativa Ordinária do segundo ano da mesma legislatura”. Esse ‘até’ ficou como o pomo da discórdia...
Em 3 de dezembro de 2008, o ‘até’ funcionou muito bem para o então presidente Ulices Andrade – hoje conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Por interesses do governador e do seu bloco governista na Alese, foi fundamental antecipar de 15 de fevereiro do ano seguinte para o 3 de dezembro a recondução de todos os membros daquela Mesa Diretora, que incluía, além de Ulices, a hoje presidente Angélica Guimarães (PSC), então vice, e todos os três primeiros secretários, André Moura (PSC), hoje deputado federal, Adelson Barreto (PSB) e Conceição Vieira (PT), que desta vez, dançou, junto com o atual vice-presidente Garibalde Mendonça (PMDB). A oposição não chiou e também não se falou em golpe. Interessou a gregos e troianos e todos ficaram satisfeitos. Como foi decisão consensuado previamente com todos os parlamentares da Casa, não gerou qualquer atrito.
A perspectiva de ‘golpe’ urdida pelo líder Francisco Gualberto e reforçada por outros petistas, como Conceição Vieira, parte daí. Naquele momento, a antecipação foi de apenas dois meses e negociada antes. Desta feita, foi de um ano e discutida à boca miúda apenas com 14 deputados – os mesmos que ficaram e sacramentaram a fatídica votação de segunda. A própria Angélica, Adelson Barreto, Antônio Santos, Arnaldo Bispo, Augusto Bezerra, Capitão Samuel, Gilmar Carvalho, Gilson Andrade, Goretti Reis, Maria Mendonça, Paulinho da Varzinhas, Mundinho da Comase, Venâncio Fonseca e Zé Franco.
Os demais foram ‘pegos com as calças nas mãos’ e não tiveram qualquer possibilidade de reação ou de montar uma chapa. A saída foi se retirar do plenário. Pego também de surpresa, o governador Marcelo Déda teve que engolir seco a derrota palaciana e o racha na sua ‘base de vidro’.
Intrigante é que na mesma segunda-feira, o governador teve uma longa conversa com o empresário Edvan Amorim, o homem dos vários partidos na algibeira. Pelo jeito, a conversa não surtiu qualquer efeito, mesmo com a promessa do empresário de que não tinha qualquer interesse em criar tensões com o governo. Poucas horas depois, 10 mil volts de tensão pipocavam na Alese. E deu no que deu. Rompimento.
Mas o que tem deixado mesmo muito macaco velho da política de cabelo em pé foi ver a participação efetiva dos parlamentares do PSB do senador Valadares na manobra do grupo antecipista. Estavam lá Adelson Barreto (reeleito como primeiro secretário) e Maria Mendonça. Como explicar? Houve algum acordo selado entre os Amorim e Valadares? Esse acordo visa as eleições de 2012 para Aracaju ou já é uma ponte para 2014? Ou os dois deputados simplesmente ‘se rebelaram’. A última hipótese é bastante improvável. Quanto às demais, muito em breve saberemos, já que até agora as lideranças do PSB têm preferido o silêncio sepulcral. Cedo ou tarde, terão de dar explicações.
O líder da oposição na Casa, deputado Venâncio Fonseca (PP), tratou logo de ironizar. "Lá atrás, em 2008, não foi golpe. Agora, porque não interessa ao PT, é golpe. (...) Nessa Casa não tem criança. Gualberto alterou o regimento lá atrás e deixou a brecha porque era conveniente e poderia usar no momento certo. O problema é que o momento agora não foi favorável. Ninguém mudou uma vírgula da lei que ele redigiu", disse. E é verdade.
O que tirar então desse episódio? Um, que o governo agora sabe o que há muito já se sabia: ele nunca teve uma base sólida na Assembleia, mas apenas uma base aglutinada por interesses imediatos e passageiros, e que mais cedo ou mais tarde racharia... Rachou. Que o grupo liderado pelos Amorim, de apetite voraz, se fortalecia a cada eleição e, uma hora, o tubarão engordado daria o bote... Está dado. Que a corrida para 2014 começa desde já, com os agrupamentos já definindo que caminhos tomar. Então, façam suas apostas! E, por fim, que toda essa refrega também tem um outro objetivo muito claro nos seus bastidores: a indicação de quem fica com a vaga a ser aberta em 2013 no Paraíso da administração pública estadual (de polpuda remuneração, diga-se de passagem), o Tribunal de Contas do Estado, onde se entra basicamente por QI – Quem Indica.
A antecipação de eleição para a Mesa foi benéfica para Ulices em 2008, quando serviu para pavimentar o seu caminho para conselheiro da Corte de Contas. A mesma antecipação de agora também deve beneficiar a . Em 2013, é líquido e certo: estará na ponta da disputa pela vaga aberta com a aposentadoria do conselheiro Reinaldo Moura, a deputada Maria Angélica Guimarães. A indicação é da Assembleia Legislativa. E o desejo, a ribeirinha de Japoatã, que já foi governadora por dez dias – mesmo que quase ninguém lembre – alimenta há muito.
Golpe? Rasteira? Que nada! É apenas a danada da política. E não tem bobo nessa história.
Camarada George, sua análise é muito boa. No entanto, o que se entende como 'golpe' nesse episódio não é simplesmente a interpretação da lei (regimento interno), que foi cumprido normalmente. O tal 'golpe' se justifica pelo fato de a presidenta antecipar a elição ao bel prazer, sem negociação, conversa, diálogo e o que mais for necessário, e ainda excluir os nomes governistas de fato de sua chapa. Se isso não for golpe, aí então estaremos vivendo num mundo de trevas. Por isso cai bem nessa hora o seu 'salve-se quem puder'.
ResponderExcluirGrande abraço.
gilson sousa
É o velho ditado do "ladrão que rouba ladrão". Literalmente. Tão perdoados ;)
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