segunda-feira, 12 de abril de 2010

São as águas de março... caindo pesadas em abril

Março se foi, mas deixou suas águas – e quanta água – na atmosfera, e elas acabaram por despencar, sem trégua, por esses dias, deixando um rastro de destruição que começa no sul do país e chega à região norte, passando por estas plagas, despejando sobre muitas cidades sergipanas a fúria das águas benditas – não dá pra amaldiçoar a água; passada a tempestade, certamente virá a bonança e fartura nas colheitas, além de manter os reservatórios aquíferos em bons níveis.

Mas claro, onde cai água demais, há sempre destruição, mortes e muitos, muitos desabrigados.

Então, se há que se amaldiçoar alguém, que sejam os homens, o poder público e, principalmente, os maus políticos, aqueles que buscam as gentes humildes somente quando precisam arrancar-lhes os votos, e depois de eleitos, um abraço. Ficam apenas as promessas, a demagogia e os projetos de duvidosa solução a serem exibidos em belas maquetes e plantas baixas, mercadorias de ilusão de prestidigitadores de mão cheia.

Os vendedores de ilusão da política estão por aí, aos borbotões, alimentados justamente pela miséria e as desgraças alheias. Bestas feras das mais malignas, se reproduzem feito coelho, e o pior, alguns são recicláveis, transmutáveis – mudam na aparência, mas na essência, permanecem os mesmos. E esses bichos perversos não deixam a política – tampouco o povo em paz – nem com reza braba.

Com as fortes chuvas que caem, sem dó nem piedade, sobre quase todo Estado desde a quinta-feira 8, muitas dessas bestas feras vão se revelando, e as mazelas aflorando ao sabor das torrentes. E as notícias que a cada instante chegam traçam um panorama desolador em muitos municípios e também na nossa “moderna” capital da qualidade de vida,

São Cristóvão, Carmópolis, Tobias Barreto, Poço Redondo, Nossa Senhora do Socorro, Aracaju... em cada canto, uma história de sofrimento e perdas com as chuvas. E o povo vai assim, sofrendo e sofrendo, eleição após eleição.

Não faz sentido, e não dá pra aceitar. Apesar das surpresas da natureza, que de quando em quando apronta uma pra cima da gente – mas isso ocorre desde que o mundo é mundo –, é inconcebível que situações como as que observamos resultante das fortes chuvas de outono ainda persistam. Muitos desses problemas são do conhecimento das autoridades há tempos, acontecem todos os anos, mas nunca são resolvidos de forma permanente. Aliás, muitos desses problemas são varridos pra debaixo do tapete, e ali ficam, até que uma grande tragédia aconteça.

Portanto, nada de amaldiçoar a natureza por suas tempestades invariáveis, tampouco jogar a culpa pelas tragédias resultantes dos temporais nas costas dos pobres, como fez o governador do Rio, Sérgio Cabral, que em entrevista à GloboNews, dia desses, afirmou, com todas as letras, que a culpa pelas mortes nos desmoronamentos de encostas na capital carioca era dos pobres que ali construíram suas casas – como se estes tivessem outra opção. A velha e manjada criminalização da pobreza. Rico construindo mansões em encostas é lindo, panorâmico e excêntrico; pobre, fazendo o mesmo, está invadindo e destruindo as matas, pondo em risco a sociedade. Cômico, se não fosse trágico.

Se há que se amaldiçoar alguém, então que sejam esses mesmos que criminalizam a pobreza e aqueles que pouco fazem para buscar soluções concretas e duradouras para o enfrentamento das intempéries, sejam quais forem. Não se está pedindo aqui nenhum milagre, ou que se construam casas capazes de flutuar ante uma enchente, ou uma máquina de chuva para levar água onde a seca castiga. O que se pede é que se busquem os meios mais modernos de construção, as ferramentas disponíveis e as tecnologias existentes e as usem para mitigar os danos causados por forças inclementes da natureza. Nada demais. Tudo é questão de planejamento e vontade política, duas coisas que estão rareando por estas plagas, infelizmente! 


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