quinta-feira, 31 de maio de 2012

Que venham as vadias!

Aracaju que se prepare! Os pudicos, conservadores e machistas que abram as suas mentes! Elas estão chegando, com toda a sua força, coragem, despudor e audácia. São as vadias, que em marcha invadirão nesta sexta-feira, 1º de junho, as ruas da capital das araras e cajus, sem medo de serem felizes, para nos provocar, instigar a nossa sociedade provinciana a refletir melhor sobre a condição das mulheres nesta terra de ‘cabras da peste’ e Lampiões, mas também de muitas Marias Bonitas, Marias Thetis Nunes, Marias Ritas Soares, Ofenísias Freires, Ítalas Silvas, Quintinas Diniz... Todas grandes mulheres, libertárias e revolucionárias em seu tempo.

Que venham as vadias! E tragam consigo um sopro de liberdade – e de libertinagem, por que não? – a este nosso mundinho de machões mandões e de mulheres ainda subservientes e que se prostram anódinas, muitas não por assim o serem, mas por assim as quererem, por jogarem sobre suas costas toda uma carga social preconceituosa desde a tenra infância, de que a ‘boa mulher’ é a submissa, ao homem e aos dogmas religiosos e sociais, o que aniquila o espírito rebelde e revolucionário de qualquer alma feminina.

Não, o papel da mulher não é o da submissão ou da subserviência, ao homem ou ao sistema. Tampouco se pode exigir delas o conformismo e a alienação diante desse mundo de Barbies plastificadas, de mulheres-objeto, comercializadas pela mídia todos os dias em doses cavalares, lobotomizando a sociedade e empurrando cérebro adentro das massas a ideia de que mulheres são para uso e reuso dos homens, e para isso, precisam estar sempre ‘prontas’, belas e cheirosas, e mancinhas, claro.

A hora é de libertação. É por isso que essas bravas vadias vêm varrendo o mundo e o país de Norte a Sul, Leste a o Oeste, feito tsunamis de Leilas Dinis, buscando a construção de uma sociedade livre da perniciosa opressão de gênero, que já não pode ter mais lugar numa sociedade que trafega pelo Século XXI.

E em se tratando das peculiaridades de nossa região, tão associada à visão do cabra-macho, é salutar a invasão dessas rebeldes vadias, para dar uma sacudida e tirar a poeira e o bolor daqueles que ainda pensam como se vivessem nos tempos do Santo Ofício ou na Era Vitoriana.

Não deixa de ser positivamente simbólico que a I Marcha das Vadias de Aracaju tenha início justamente na Praça da Catedral Metropolitana. Afinal, não há instituição mais castradora do espírito libertário das mulheres que a ‘santa’ Igreja.

Só pra lembrar, foi para agradar a Igreja que a presidente Dilma Rousseff aprovou a Medida Provisória 557, no final do ano passado. Esta MP instituiu o Cadastro Nacional de Gestantes, uma ideia interessante, mas no escopo da ‘boa intenção’ de enfrentar o problema da mortalidade materna e do nascituro, há escamoteado um caráter de vigilância e de controle do Estado sobre a vida reprodutiva e sobre o corpo e o livre arbítrio das mulheres. Tudo o que a Igreja mais deseja e apoia.

São estas e outras bandeiras importantes, como a justa reivindicação por mais creches públicas para as trabalhadoras e estudantes, a equiparação salarial entre os gêneros, estabilidade às gestantes em contrato de experiência e o fim do assédio sexual no trabalho e do racismo que movem essas belas e corajosas vadias.

Que venham, então, e que incendeiem esta província com a chama da liberdade feminina e da igualdade de gênero. Toquem fogo nesta selva de preconceitos e dogmas. Que à marcha somem-se homens cientes de que o tempo é de mudança e de enxergar as mulheres como seres autônomos e independentes, como donas de suas vidas. Elas sabem o que querem e aonde querem chegar. Não cabe a nós obstruir, mas construir esse caminho lado a lado.

Que esta Marcha das Vadias seja a primeira de muitas. Estávamos mesmo precisando de uma sacolejada.

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